O jornal italiano Corriere Della Sera no início deste mês, colocou no ar uma enquete onde pergunta aos seus leitores: Quem é o maior piloto de fómula 1 de todos os tempos? Michael Schumacher, Ayton Senna, Juan M. Fangio ou Alain Prost?
Até a semana passada, Michael Schumacher liderava o ranking.
Então alguns sites brasileiros como o Kibeloco e o Haznos resolveram liderar uma cruzada em defesa do piloto brasileiro.
Embora eu discorde deles, não posso deixar de entender essa admiração à imagem de Ayrton Senna. Desde aquele nefasto acidente na curva Tamborello, sua figura passou por um processo de beatificação típico de um povo necrólatra e carente de heróis.
Pudera, 11 entre 10 necrológios reiteram o inevitável clichê: "Senna foi a personificação de um Brasil vencedor".
De quebra, feito ícones da cultura pop como James Dean, Che Guevara e Jimi Hendrix, morreu precocemente, deixando em seus fãs a questão com gosto de "se...": o que mais Senna poderia ter feito caso tivesse seguido em frente?
Muitos relativizam os feitos do piloto brasileiro dizendo que ele corria por uma escuderia inglesa, com motores japoneses e pneus franceses.
Esquecem-se, porém, de recordar que suas maiores façanhas foram realizadas em corridas nas quais seu equipamento era claramente inferior ao de seus concorrentes. Vide, por exemplo, sua primeira vitória em um GP Brasil, em 1991, quando Senna completou as últimas voltas no autódromo de Interlagos apenas com a sexta marcha.
Ou sua fantástica performance no GP Europa de 1993, no circuito de Donington Park, quando o piloto brasileiro ultrapassou quatro carros (dentre eles as Williams de Prost e Hill, as "Ferraris" daquela época) e completou em primeiro lugar aquela que é considerada a melhor volta de toda a história da F-1 (clique aqui para baixar o vídeo e exibi-lo aos céticos).
Pois bem, após assistir dezenas de vitórias de Michael Schumacher, não posso deixar de dizer que nunca vi um piloto de Fórmula 1 mais sortudo.
Não quero desdenhar aqui de seu talento: por mais que eu desgoste do "chucrute voador" devido a inúmeras atitudes pouco desportivas cometidas em sua carreira, não posso deixar de reconhecer que ele já faz parte, inequivocadamente, da galeria dos maiores pilotos de todos os tempos.
Ademais, o que dizer de um cara que detém todos os recordes da Fórmula 1?
E no entanto é preciso recordar as sábias palavras de Nelson Rodrigues: é preciso ter sorte até mesmo para se chupar um Chicabon. Afinal de contas, ninguém está imune a tropeçar em um buraco na calçada ou deixar derrubar o sorvete no chão.
Nesse requisito, afirmo sem pestanejar que Schummy é uma espécie de Gastão (aquele primo sortudo do Donald) do automobilismo: tudo deu certo para ele.
Sua carreira na fórmula 1 foi um verdadeiro caminho de estrelas, a começar por sua primeira oportunidade na Fórmula 1.
Após passagens discretas por categorias inferiores, o alemão herdou uma vaga na Jordan após o piloto titular, o francês idiota Bertrand Gachot, ter sido preso por conta de uma briga imbecil de trânsito. Convencido por dirigentes da Mercedes-Benz, que patrocinava então a carreira daquele jovem de 22 anos, Eddie Jordan deu a primeira chance ao alemão no GP da Bélgica de 1991 obtendo um desempenho razoável o suficiente para garantir vaga em outras corridas.
Muitos anos depois, Schumacher amealhou recorde após recorde após estar sentado no cockpit da melhor escuderia da Fórmula 1, a Ferrari. Cá entre nós: por mais talento que Schummy tenha, nem de longe ele deteria os recordes que atualmente possui se estivesse ao volante de uma B.A.R. ou Toyota.
É óbvio que o alemão teve o mérito de tomar as decisões certas nas horas certas, virtude que outros pilotos de talento tão evidente quanto Schumacher não tiveram. Um exemplo doméstico: Nelson Piquet, que, segundo reza a lenda, desprezou em 1984 uma oferta para correr na McLaren, escuderia que dominaria por completo os 3 campeonatos subseqüentes. Na época, Piquet já era bicampeão mundial (e conseguiria posteriormente mais um título em 1987 com uma Williams).
Quantos títulos Nelson teria arrebatado caso tivesse assinado os contratos certos?
Mudando um pouquinho do assunto:Piloto realmente azarado foi um tal de Chris Amon, neozelandês, que disputou pela Ferrari 13 temporadas na Fórmula-1 sem ter vencido uma corrida sequer. Detalhe: em 32 corridas Amon liderava a prova quando seu carro quebrou. E pensar que você ainda faz piadas com o Rubinho Pé de Chinelo...
Voltando ao assunto: Outro aspecto fundamental: Schumacher nasceu na época correta. Enquanto as temporadas passadas viram disputas acirradas entre diversos pilotos (Senna correu ao lado de Prost, Lauda, Piquet e Mansell. Todos pilotos de dentes afiadíssimos), o alemão não teve qualquer rival à sua altura.
Mas, muito mais importante do que as rivalidades, Schummy compete em tempos nos quais disputar a F-1 tornou-se uma atividade bem mais segura.
Em 2007 a Fórmula 1 comemora 13 anos sem que nenhum de seus pilotos tenha sido vitimado fatalmente. Para ser mais exato, desde aquele fatídico 1º de maio na curva Tamborello, que provocou mudanças radicais no aspecto "segurança". Um exemplo: na época em que Senna morreu, os carros ainda não possuíam as chamadas "células de sobrevivência", espécies de casulos que envolvem o piloto e são capazes de absorver impactos de mais de 4.000 quilos.
Graças a elas, Schumacher escapou com vida do violentíssimo acidente que sofreu no GP da Inglaterra de 1999, quando bateu sua Ferrari a nada menos que 300 km/h. Para que se tenha uma idéia de como foi o impacto: quando chegou para socorrer Schummy, Alex Dias Ribeiro, que na época era piloto do carro médico da F-1, conta que os botões do volante estavam impressos na viseira do capacete do alemão, uma evidência do quão forte foi a batida da cabeça no painel de direção (milagrosamente, Schumacher "apenas" fraturou suas duas pernas).
Para que se tenha idéia do quanto a Fórmula 1 evoluiu em termos de profissionalismo e segurança, basta recordar o mais pitoresco acidente da história. Durante o GP da África do Sul de 1977, o galês Tom Pryce atropelou um fiscal de pista que atravessou a pista imprudentemente para socorrer outro carro.
Esse infeliz, que foi simplesmente destroçado pelo acidente, tinha nas mãos um extintor de incêndio que acertou em cheio a cabeça do piloto. Pryce teve morte instantânea e sua Shadow ainda percorreu a pista por cerca de 500 metros, até bater em outro carro e chocar-se no guard-rail. Você consegue conceber acidente similar acontecer na F-1 atual?
Mas... e se Ayrton Senna tivesse escapado ileso daquele acidente? E se Nelson Piquet tivesse assinado o contrato com a McLaren em 1984? E se o bicampeão Jim Clark não tivesse disputado aquela corrida de F-2 em Hockenheim e chocado seu Lotus em uma árvore, dando fim a uma carreira na qual venceu 25 de 72 Grandes Prêmios disputados? E se Jackie Stewart, detentor de 3 títulos mundiais, revisse sua decisão de encerrar precocemente sua carreira depois da morte de seu amigo e companheiro de equipe François Cevert em 1973?
Não importa. Não adianta ficar debatendo sobre o sexo dos anjos. Sem "achismo" ou "se...", à fria luz dos números e estatísticas, Michael Schumacher é sim o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos.
Ponto final.
Até a semana passada, Michael Schumacher liderava o ranking.
Então alguns sites brasileiros como o Kibeloco e o Haznos resolveram liderar uma cruzada em defesa do piloto brasileiro.
Embora eu discorde deles, não posso deixar de entender essa admiração à imagem de Ayrton Senna. Desde aquele nefasto acidente na curva Tamborello, sua figura passou por um processo de beatificação típico de um povo necrólatra e carente de heróis.
Pudera, 11 entre 10 necrológios reiteram o inevitável clichê: "Senna foi a personificação de um Brasil vencedor".
De quebra, feito ícones da cultura pop como James Dean, Che Guevara e Jimi Hendrix, morreu precocemente, deixando em seus fãs a questão com gosto de "se...": o que mais Senna poderia ter feito caso tivesse seguido em frente?
Muitos relativizam os feitos do piloto brasileiro dizendo que ele corria por uma escuderia inglesa, com motores japoneses e pneus franceses.
Esquecem-se, porém, de recordar que suas maiores façanhas foram realizadas em corridas nas quais seu equipamento era claramente inferior ao de seus concorrentes. Vide, por exemplo, sua primeira vitória em um GP Brasil, em 1991, quando Senna completou as últimas voltas no autódromo de Interlagos apenas com a sexta marcha.
Ou sua fantástica performance no GP Europa de 1993, no circuito de Donington Park, quando o piloto brasileiro ultrapassou quatro carros (dentre eles as Williams de Prost e Hill, as "Ferraris" daquela época) e completou em primeiro lugar aquela que é considerada a melhor volta de toda a história da F-1 (clique aqui para baixar o vídeo e exibi-lo aos céticos).
Pois bem, após assistir dezenas de vitórias de Michael Schumacher, não posso deixar de dizer que nunca vi um piloto de Fórmula 1 mais sortudo.
Não quero desdenhar aqui de seu talento: por mais que eu desgoste do "chucrute voador" devido a inúmeras atitudes pouco desportivas cometidas em sua carreira, não posso deixar de reconhecer que ele já faz parte, inequivocadamente, da galeria dos maiores pilotos de todos os tempos.
Ademais, o que dizer de um cara que detém todos os recordes da Fórmula 1?
E no entanto é preciso recordar as sábias palavras de Nelson Rodrigues: é preciso ter sorte até mesmo para se chupar um Chicabon. Afinal de contas, ninguém está imune a tropeçar em um buraco na calçada ou deixar derrubar o sorvete no chão.
Nesse requisito, afirmo sem pestanejar que Schummy é uma espécie de Gastão (aquele primo sortudo do Donald) do automobilismo: tudo deu certo para ele.
Sua carreira na fórmula 1 foi um verdadeiro caminho de estrelas, a começar por sua primeira oportunidade na Fórmula 1.
Após passagens discretas por categorias inferiores, o alemão herdou uma vaga na Jordan após o piloto titular, o francês idiota Bertrand Gachot, ter sido preso por conta de uma briga imbecil de trânsito. Convencido por dirigentes da Mercedes-Benz, que patrocinava então a carreira daquele jovem de 22 anos, Eddie Jordan deu a primeira chance ao alemão no GP da Bélgica de 1991 obtendo um desempenho razoável o suficiente para garantir vaga em outras corridas.
Muitos anos depois, Schumacher amealhou recorde após recorde após estar sentado no cockpit da melhor escuderia da Fórmula 1, a Ferrari. Cá entre nós: por mais talento que Schummy tenha, nem de longe ele deteria os recordes que atualmente possui se estivesse ao volante de uma B.A.R. ou Toyota.
É óbvio que o alemão teve o mérito de tomar as decisões certas nas horas certas, virtude que outros pilotos de talento tão evidente quanto Schumacher não tiveram. Um exemplo doméstico: Nelson Piquet, que, segundo reza a lenda, desprezou em 1984 uma oferta para correr na McLaren, escuderia que dominaria por completo os 3 campeonatos subseqüentes. Na época, Piquet já era bicampeão mundial (e conseguiria posteriormente mais um título em 1987 com uma Williams).
Quantos títulos Nelson teria arrebatado caso tivesse assinado os contratos certos?
Mudando um pouquinho do assunto:Piloto realmente azarado foi um tal de Chris Amon, neozelandês, que disputou pela Ferrari 13 temporadas na Fórmula-1 sem ter vencido uma corrida sequer. Detalhe: em 32 corridas Amon liderava a prova quando seu carro quebrou. E pensar que você ainda faz piadas com o Rubinho Pé de Chinelo...
Voltando ao assunto: Outro aspecto fundamental: Schumacher nasceu na época correta. Enquanto as temporadas passadas viram disputas acirradas entre diversos pilotos (Senna correu ao lado de Prost, Lauda, Piquet e Mansell. Todos pilotos de dentes afiadíssimos), o alemão não teve qualquer rival à sua altura.
Mas, muito mais importante do que as rivalidades, Schummy compete em tempos nos quais disputar a F-1 tornou-se uma atividade bem mais segura.
Em 2007 a Fórmula 1 comemora 13 anos sem que nenhum de seus pilotos tenha sido vitimado fatalmente. Para ser mais exato, desde aquele fatídico 1º de maio na curva Tamborello, que provocou mudanças radicais no aspecto "segurança". Um exemplo: na época em que Senna morreu, os carros ainda não possuíam as chamadas "células de sobrevivência", espécies de casulos que envolvem o piloto e são capazes de absorver impactos de mais de 4.000 quilos.
Graças a elas, Schumacher escapou com vida do violentíssimo acidente que sofreu no GP da Inglaterra de 1999, quando bateu sua Ferrari a nada menos que 300 km/h. Para que se tenha uma idéia de como foi o impacto: quando chegou para socorrer Schummy, Alex Dias Ribeiro, que na época era piloto do carro médico da F-1, conta que os botões do volante estavam impressos na viseira do capacete do alemão, uma evidência do quão forte foi a batida da cabeça no painel de direção (milagrosamente, Schumacher "apenas" fraturou suas duas pernas).
Para que se tenha idéia do quanto a Fórmula 1 evoluiu em termos de profissionalismo e segurança, basta recordar o mais pitoresco acidente da história. Durante o GP da África do Sul de 1977, o galês Tom Pryce atropelou um fiscal de pista que atravessou a pista imprudentemente para socorrer outro carro.
Esse infeliz, que foi simplesmente destroçado pelo acidente, tinha nas mãos um extintor de incêndio que acertou em cheio a cabeça do piloto. Pryce teve morte instantânea e sua Shadow ainda percorreu a pista por cerca de 500 metros, até bater em outro carro e chocar-se no guard-rail. Você consegue conceber acidente similar acontecer na F-1 atual?
Mas... e se Ayrton Senna tivesse escapado ileso daquele acidente? E se Nelson Piquet tivesse assinado o contrato com a McLaren em 1984? E se o bicampeão Jim Clark não tivesse disputado aquela corrida de F-2 em Hockenheim e chocado seu Lotus em uma árvore, dando fim a uma carreira na qual venceu 25 de 72 Grandes Prêmios disputados? E se Jackie Stewart, detentor de 3 títulos mundiais, revisse sua decisão de encerrar precocemente sua carreira depois da morte de seu amigo e companheiro de equipe François Cevert em 1973?
Não importa. Não adianta ficar debatendo sobre o sexo dos anjos. Sem "achismo" ou "se...", à fria luz dos números e estatísticas, Michael Schumacher é sim o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos.
Ponto final.
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